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Doses insuficientes, dificuldades de armazenamento, despesas administrativas, desconfiança da população: o início da vacinação contra a covid-19 tropeça em vários obstáculos em todo o mundo.

Governador de São Paulo, João Doria (PSDB), mostra caixa da CoronaVac ao lado do secretário de Saúde, Jean Gorinchteyn (esquerda), e o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, durante coletiva de imprensa em que foi anunciada a taxa de eficácia da vacina contra a covid-19

Doses insuficientes

Devido à falta de doses suficientes, os grandes centros de vacinação de Berlim e Nova York demoraram a abrir as portas. Outros ainda não foram inaugurados.

Em Nova York, apenas 1 milhão de doses foram distribuídas para 4 milhões de pessoas que cumpriam os critérios de vacinação.

A União Europeia dobrou suas reservas da vacina Pfizer/BioNTech e as primeiras doses da vacina da Moderna foram entregues. Uma terceira vacina pode ser autorizada no final de janeiro e a UE espera dispor de cerca de 600 milhões de doses nos próximos meses.

Outras carências somam-se à escassez das doses. Na França, às vezes são distribuídas menos agulhas para seringas que de doses, o que impossibilita parte das aplicações.

Há também a questão dos frascos. No entanto, a alemã Schott, uma das principais fabricantes, afirmou à AFP que é capaz de entregar suficientes frascos para 2 bilhões de doses este ano.

Difícil armazenamento

A vacina deve ser conservada a uma temperatura muito baixa. A da Pfizer/BioNTech, por exemplo, precisa de -70 graus Celsius por muito tempo. Depois, pode ser mantida entre 2 e 8 graus durante cinco dias, o que deixa pouca margem de manobra.

Em Baviera, uma parte das doses foi transportada em refrigeradores de camping e centenas tiveram que ser descartadas nos primeiros dias pelo temor de uma ruptura da cadeia de frio.

Na Bulgária, a primeira entrega de doses aconteceu no final de dezembro em vans refrigeradas de um fabricante de salsichas, aumentando a desconfiança da população.

A Espanha não recebeu doses suficientes no final de dezembro devido a um problema de “temperatura” em uma fábrica da Bélgica, enquanto as impressionantes nevascas provocaram uma interrupção das entregas aéreas em Madri.

Na Índia, que tem como objetivo vacinar 300 milhões de pessoas antes de julho, a cadeia de frio deverá ser garantida mediante a mobilização de 29.000 pontos de armazenamento a uma temperatura controlada e 41.000 congeladores.

Burocracia

Inicialmente, a França enviou um manual de 45 páginas aos profissionais da saúde para assessorá-los em sua campanha de vacinação nos lares de idosos. As autoridades de saúde também estabeleceram uma consulta prévia cinco dias antes da vacinação. Este prazo, no entanto, foi eliminado e o manual, reduzido para cerca de vinte páginas.

O governo francês também recorreu a consultórios privados em um processo no qual vários níveis de autoridades sanitárias, estabelecimentos médicos e paramédicos interferem, assim como instituições locais.

O lançamento dessas campanhas sem precedentes em plena época de Natal não facilitou as operações, principalmente na Espanha, onde os serviços não vacinaram nesses dias, reconheceu o epidemiologista chefe do ministério da Saúde.

Desperdício

Rapidamente se descobriu que é possível extrair seis doses em vez de cinco de cada frasco de vacina Pfizer/BioNTech. Mas como a dose adicional não estava permitida, teve que ser descartada.

Desde então, as autoridades alteraram a regulamentação para não desperdiçar nenhuma gota. No entanto, ainda há perdas. Por exemplo, os hospitais de Nova York retiraram frascos porque não havia pacientes que pudessem receber a primeira rodada de vacinas.

“Existe uma falta de orientação sobre o que fazer com as doses restantes”, disse à AFP Saad Omer, diretor do Instituto de Saúde Mundial de Yale. Uma solução poderia ser uma lista de reserva em caso de os destinatários não aparecerem, “como as entradas de última hora para os espetáculos da Broadway”, sugeriu.

Nos Estados Unidos, das 25,4 milhões de primeiras doses de vacinas Pfizer e Moderna distribuídas no país, apenas 8,9 milhões (35%) foram injetadas em 11 de janeiro.

O agendamento para a vacinação também pode ser caótico. No estado alemão da Turíngia, o portal de inscrições foi alvo de um ataque hacker, que provocou a perda de várias centenas de pedidos.

Em outros países, os serviços de internet ou telefônicos estão saturados.

Ceticismo

O movimento “antivax” (antivacinas) e suas manifestações, às vezes violentas, incitaram vários governos, especialmente na França e na Áustria, a apostar em procedimentos lentos.

O ceticismo é particularmente forte na Europa central e oriental. A desconfiança pode chegar até mesmo aos profissionais de saúde.

Na França, em novembro, menos da metade dos médicos diziam estar “certos” de que queriam ser vacinados.

Na Letônia, muitos funcionários do hospital de Duneburg, a segunda maior cidade do país, se recusam a se vacinar.

Na Alemanha, metade dos enfermeiros não quer a vacina, segundo uma pesquisa, o que levou o líder bávaro Markus Söder a defender a vacinação obrigatória da equipe de saúde.

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