Dois novos estudos demonstram o efeito protetivo da fórmula Pfizer/BioNTech “no mundo real” e a relacionam com queda de até 90% na ocorrência de casos assintomáticos de covid. Resultados indicam, ainda, que o imunizante pode ajudar a diminuir a transmissão do Sars-CoV-2
Dois novos estudos divulgados na revista Jama, da Associação Médica Norte-Americana, reforçam a efetividade da vacina da Pfizer/BioNTech no mundo real. Um deles, realizado em Israel com 6.710 profissionais de saúde, demonstrou que os imunizados com duas doses tiveram risco 18 vezes menor de serem infectados pelo vírus da covid. Já a pesquisa dos Estados Unidos, feita em um hospital do Tennessee com 2.776 pessoas, encontrou um risco 4,7 vezes mais elevado de se contrair o vírus entre os não vacinados.
Em linha com a eficácia observada nos ensaios clínicos, de 95%, os dois trabalhos, de equipes independentes, também acrescentam dados menos explorados até agora nas pesquisas que avaliam os resultados da vacinação além dos ensaios clínicos. Trata-se da comparação de casos assintomáticos em pessoas que receberam ou não a vacina. No artigo norte-americano, os pesquisadores do Hospital Pediátrico St. Jude, onde o estudo foi conduzido, observaram que o imunizante reduziu o risco de infecção (com ou sem sintomas) em 96%. Quando eles analisaram apenas as infecções assintomáticas, a probabilidade de se contaminar foi 90% menor entre os imunizados.
“Esse é um dos primeiros estudos a mostrar uma associação entre a vacinação e menos infecções assintomáticas”, diz Diego Hijano, um dos autores do estudo e pesquisador do Departamento de Doenças Infecciosas do St. Jude. “Quando a vacina Pfizer/BioNTech foi autorizada para uso nos Estados Unidos, os dados clínicos sugeriram que o regime de duas doses reduz o risco da doença sintomática, incluindo o risco de hospitalização e morte. Porém não estava claro, até agora, a associação da vacina com a redução da infecção assintomática”, destaca. De acordo com Hijano, embora sejam necessárias mais pesquisas para confirmar o efeito, “há uma grande possibilidade de que a vacinação diminua a transmissão do Sars-CoV-2”.
Durante o estudo, 236 dos 5.217 funcionários incluídos na pesquisa testaram positivos para o coronavírus. Desses, 185 não haviam vacinado e 51 tinham recebido ao menos uma dose da vacina. Quase metade dos casos positivos, 108, não relatou sintomas durante o teste. Os assintomáticos incluíram 20 participantes que tomaram uma dose e três com resultado positivo em até sete dias após a segunda dose. “Os resultados são um lembrete dos muitos casos ocultos na população, o que torna a contenção do vírus um grande desafio”, afirma, em nota, outro coautor do estudo, Li Tang.
Agravamento
No estudo israelense, pesquisadores do Centro Médico Sourasky de Tel Aviv analisaram dados de 6.710 funcionários — 5.953 (88,7%) receberam pelo menos uma dose, 5.517 (82,2%), duas doses, e os 757 restantes (11,3%) não foram vacinados. Dos trabalhadores do primeiro grupo, 0,5% testou positivo para o Sars-CoV-2, assim como 7,2% dos não vacinados. Apenas oito pessoas totalmente vacinadas, com as duas doses, foram sintomáticas e 19 apresentaram sintomas da doença. Entre os não vacinados, 38 foram sintomáticos e 17 trabalhadores assintomáticos.
Segundo a equipe, isso mostra que não apenas a vacina é eficaz em evitar a infecção, mas, no caso de contágio, é muito improvável que a pessoa adoeça. O estudo constatou que a vacina da Pfizer foi 97% efetiva na prevenção de covid sintomática e 86% no caso das infecções assintomáticas.
“Esses dados confirmam que a vacina de mRNA da Pfizer oferece proteção muito alta contra doenças graves por covid-19 e morte. É importante ressaltar que os estudos mostram que duas doses da vacina aumentam a proteção”, observa Jonathan Ball, professor de virologia molecular da Universidade de Nottingham, no Reino Unido. “É por isso que é importante que as pessoas recebam ambas as doses. Aumentar a imunidade com o reforço da vacina será ainda mais importante com o surgimento de variantes que podem ter adquirido alterações genéticas que as tornam mais resistentes à imunidade gerada pelas vacinas ou após a infecção natural”, completa.
Palavra de especialista
Rumo à imunidade coletiva
“Como seria de se esperar de estudos anteriores, a vacina é mais eficaz na prevenção de doenças críticas e morte, e progressivamente menos eficaz na prevenção de resultados menos graves. No entanto, continua altamente efetiva para evitar as infecções assintomáticas. Com os dados de outros estudos que mostram que as pessoas que foram infectadas apesar de terem recebido pelo menos uma dose da vacina eram menos propensas a ser infecciosas, isso é extremamente reconfortante: significa que a vacinação tem o potencial de induzir a imunidade coletiva.”
Peter English, ex-editor da revista Vaccines in Practice