Em estudo realizado pela Universidade de Michigan, a resposta pode estar na absorção de nanopartículas, tecnologia usada pela Pfizer e Moderna.
Um estudo realizado pela Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, levantou que as vacinas contra a Covid-19 desenvolvidas pela Moderna e pela Pfizer BioNTech podem funcionar melhor em homens do que mulheres. Morteza Mahmoudi, pesquisador da universidade, tem observado por anos como e porque os nanomedicamentos – terapias que usam nanopartículas — podem afetar os pacientes de acordo com o sexo. As duas vacinas utilizam essa tecnologia para imunizar as pessoas.
A vacina da Johnson & Johnson também tem apresentado diferença entre sexos, principalmente no efeito colateral de coagulação do sangue, ocorrido predominantemente em mulheres. No entanto, o imunizante usa adenovírus ao invés da tecnologia de nanopartículas. Dessa forma, Mahmoudi utilizou trabalhos anteriores que o vírus pode utilizar a transfecção — processo de introdução intencional de ácido nucleicos nas células — nas células de homens e mulheres de maneiras diferentes.
“Nós precisamos focar nessa diferença entre os sexos e explicá-la à comunidade científica e ao público. Isso pode ser muito útil no desenvolvimento de novas estratégias ao mesmo tempo que nos protege de ameaças futuras”, disse Mahmoud, que é professor assistente do Departamento de Radiologia e do Programa de Saúde de Precisão.
Para conseguir desenvolver novas estratégias para o futuro, o professor explica que antes de mais nada é preciso entender o motivo pelo qual há a diferença na resposta entre pacientes de sexo diferente. Em seu novo artigo, publicado nesta quinta-feira, 20, na Nature Communications, ele explica que precisam haver mudanças na forma como a medicina e a ciência enxergam as nanopartículas.
No artigo, são descritos quatro grandes desafios na pesquisa do papel do sexo nas nanopartículas e suas implicações para o futuro. “Precisamos ser cuidadosos. Precisamos considerar que o sexo é importante”, diz.
Antes da pandemia, o foco na atuação dessas partículas era na área do câncer, porém os estudos se provaram, em sua grande maioria, falhos. Menos de 15% dos nanomedicamentos passaram na fase final dos testes, ao mesmo tempo que nenhum se provou ser mais eficaz do que os tratamentos padrão. Além disso, os estudos da área geralmente são mais focados no sexo feminino devido a doenças que afetam mais as mulheres, como câncer de mama e de ovário.
Apesar de constantemente falhar nos estudos contra o câncer, as nanopartículas têm se mostrado eficazes contra o novo coronavírus, embora a diferença de atuação entre homens e mulheres ainda não esteja clara.
“De certo modo, as vacinas soam como uma boa notícia para a nanomedicina, embora ainda não tenhamos resolvido os problemas relacionados ao câncer”, diz Mahmoudi.
A diferença na eficácia da vacina, embora seja mensurável, é relativamente pequena. O imunizante desenvolvido pela Moderna apresenta 95,4% de eficácia em homens contra 93,1% em mulheres. Já a vacina desenvolvida pela Pfizer, os números são 96,4% para homens e 93,7% para mulheres.
Ambas as farmacêuticas utilizam as nanopartículas baseadas em lipídios, moléculas de gordura que formam pequenas esferas na água que parecem com bolhas. Em seguida, essas partículas são “embaladas” junto com os ingredientes ativos da vacina, que servirão como veículos de entrega para as células dos humanos.
Juntamente com pesquisadores da Universidade romana “La Sapienza”, Mahmoudi testou se essas nanopartículas baseadas em lipídios poderiam ser o diferencial na eficácia e a equipe encontrou uma diferença significativa para um tipo de células chamadas de “células assassinas naturais”, responsáveis por encontrar partículas infectadas e matá-las.
Com base nos estudos, foi possível identificar que essas células assassinas dos homens absorvem mais nanopartículas do que as das mulheres. Apesar disso, essa diferença poderia ser facilmente resolvida a partir de outros procedimentos, ainda não ficando completamente claro as causa e soluções da diferença entre homens e mulheres.
“Os ensaios clínicos foram realizados com dezenas de milhares de pessoas. Sabemos que essa diferença existe e agora precisamos monitorá-la. Com cada vez mais pessoas se vacinando, significa que temos cada vez mais dados. Só precisamos ir até eles”, completa.