Skip to main content

Plano para tornar empresa mais sustentável precisa ter metas claras e passar a mensagem de que proposta não é oportunismo

Vários setores de economia começam a acumular exemplos de projetos que buscam unir os negócios à preservação ambiental e impactos sociais positivos.

Os conceitos de sustentabilidade e da sigla ESG – amparada nos pilares ambiental, social e de governança – ganham mais espaço dentro das corporações e no mercado financeiro e, com isso, muita gente tem a impressão de que o tema é novo e que há oportunismo no debate. No entanto, a percepção acaba sendo injusta com muitas empresas, que há tempos desenvolvem trabalhos sólidos de sustentabilidade e se adaptam em meio a um movimento que, às vezes, é classificado como modismo.

“Não existe mágica. A empresa não dorme fazendo tudo errado e acorda fazendo tudo certo. É preciso um plano sério e consistente para obter resultados a médio e longo prazos”, diz Ricardo Assumpção, CEO da consultoria Grape ESG. “Se a organização não estiver realmente convicta do que quer e precisa, acabará abandonando a estratégia ao longo de um caminho que não é fácil nem simples.”

Para Assumpção, o momento na jornada ESG é de separar o joio do trigo. Valorizar as empresas que realmente têm propostas consistentes e identificar aquelas que misturam sustentabilidade com marketing e, assim, estão praticando o chamado greenwashing – a adesão falsa ou imprecisa aos conceitos de sustentabilidade. E como essa credibilidade pode ser construída? Basicamente, com duas estratégias: seguir critérios científicos aceitos globalmente e submeter esses dados à auditoria de instituições externas respeitadas e reconhecidas.

Foi a demanda por ética nesse processo que fez surgir o movimento global Race to Zero, capitaneado pela Organização das Nações Unidas (ONU), uma grande coalizão para incentivar que a busca pela meta de emissão zero de carbono, tão divulgada nos últimos tempos, seja feita com indicadores transparentes. A mensagem é clara: não basta dizer que vai zerar a emissão de carbono em determinado ano. É preciso mostrar como isso será feito, detalhadamente, passo a passo, ao longo do período.

Critérios científicos
A experiência de quem atua na área de sustentabilidade no Brasil é a de que somente o discurso pode se desmanchar quando confrontado com exigências de exatidão e clareza.

O diretor executivo da Rede Brasil do Pacto Global da ONU, Carlo Pereira, lembra que, em junho de 2019, com o lançamento global da campanha Business Ambition for 1,5 ºC, associada à iniciativa Science Based Targets (Metas Baseadas em Ciência, em tradução livre), houve um grande esforço do Pacto Global para que o setor empresarial brasileiro aderisse ao movimento, mas só duas empresas se comprometeram inicialmente.

Hoje, são 23 empresas nacionais que assumiram o compromisso, além de dezenas de companhias internacionais com operação no Brasil. Dentre as brasileiras, quatro já tiveram sua meta aprovada pela iniciativa. “Vemos com bons olhos esse avanço, pois compromissos com o clima normalmente demandam investimentos, mudanças de processo ou novas tecnologias. Mas precisamos que a curva de adesão pelas empresas seja exponencial para atingirmos os resultados que queremos”, diz Pereira.

Ele menciona uma pesquisa do NewClimate Institute que concluiu que apenas 8% das empresas que anunciaram o objetivo Net Zero até 2050 apresentam metas internas consistentes – o Net Zero é um programa que visa desafiar e apoiar empresas integrantes do Pacto Global para que estabeleçam metas climáticas ambiciosas.

“Promessas de longo prazo só têm credibilidade quando associadas a planos de curto e médio prazos”, enfatiza o líder do Pacto Global no Brasil. “É por isso que recomendamos às empresas que submetam seus compromissos ao Science Based Targets, para garantirmos uma ação condizente com o nível de ambição e urgência que a ciência climática hoje nos impõe.”

Desenvolvida pelo próprio Pacto Global em parceria com três outras instituições, a iniciativa Science Based Targets defende a adoção de parâmetros estabelecidos pelas mais recentes pesquisas da ciência climática. A motivação é aumentar as chances de que o principal objetivo do Acordo de Paris, firmado em 2015, seja alcançado: limitar o aquecimento global neste século a muito abaixo dos 2 °C em comparação aos níveis pré-industriais, com o máximo de esforço para limitar o aumento da temperatura a 1,5 °C.

Augusto Corrêa, secretário executivo da Parceiros pela Amazônia (PPA), lembra que as empresas brasileiras investem pouco em pesquisa e desenvolvimento na área de sustentabilidade. “As conversas sobre ESG não costumam passar por esse tema tão fundamental. Muitas vezes o empresário diz que quer medir, ver os resultados, mas não concorda em colocar dinheiro no processo de desenvolver métricas.”

Acesse aqui a notícia original

Leave a Reply